Web3: Uma nova Internet baseada em blockchain

Em junho, o MIT sediou o evento Imagination in Action Web3 Summit, que foi organizado em conjunto com o MIT Connection Science, Forbes e Link Ventures. Eles reuniram quase 600 desenvolvedores, empreendedores, investidores e acadêmicos para discutir o estado atual e a evolução potencial da Web3. A agenda contou com diversos painéis e palestrantes como Alex (Sandy) Pentland, – professor do MIT e diretor de ciência da conexão, Michael Federle, – CEO da Forbes, John Werner, – diretor administrativo da Link Ventures e Esther Dyson, – investidora, jornalista e filantropa.

O MIT Summit foi o primeiro de uma série de conferências Imagination in Action, com agendas para San Francisco e Davos. “As reflexões sobre a última grande transformação social e econômica provocada pela chegada da era da Internet, proporcionou os insumos para construir e dar governança para a Web3”, bem como vislumbrar as possibilidades do futuro da Web3 e tentar discernir hype de potencial realidade da nova era da Internet.

Aqui estão alguns vídeos do evento com opiniões sobre o que é a Web3. Em seus primeiros anos, as principais novas tecnologias geralmente são acompanhadas por uma mistura de empolgação, especulação e confusão; porém, à medida que as pessoas descobrem sobre o que a tecnologia pode ser e como ela provavelmente evoluirá, isso permite que coisas importantes comecem a acontecer, mas leva algum tempo e experiência de mercado para que cheguem até nós.

Eu já vi isso acontecer algumas vezes na indústria de TI/Telecom, especialmente, no início dos anos 1990, quando ainda usávamos a BBS e a internet dava suas primeiras aparições comerciais. Muita coisa estava acontecendo, mas nada ainda estava claro sobre a direção pra onde as coisas seguiriam e, quais seriam as implicações para o mundo dos negócios. Algumas das lições aprendidas, do inicio da Internet:

  • À medida que o frenesi ponto.com começou a ganhar intensidade, as pessoas passaram a experimentar novos aplicativos e modelos de negócios – alguns dos quais acabaram sendo muito inovadores, enquanto outros não deram certo. Não foi fácil separar o hype da realidade. Parte do que era da “nova economia” baseada na internet, proporcionava, as startups da época, adquiriram uma vantagem inerente sobre as empresas já estabelecidas, cujos ativos físicos eram sua fraqueza, no mercado emergente e rápido, do mundo digital em movimento. Mas, ao examinar de perto o que realmente estava acontecendo no mercado, ficou claro que todas as organizações, não apenas as startups, se beneficiariam com a adoção da Internet.
  • A conectividade universal da Internet permitia o acesso a informações e transações de todos os tipos para qualquer pessoa com um navegador e uma conexão com a Internet. Qualquer instituição podia agora, com seus bancos de dados, aplicativos, com um front-end da web, alcançar clientes, funcionários, fornecedores e parceiros a qualquer hora do dia ou da noite. As empresas foram, portanto, capazes de se envolver em suas principais atividades transacionais de uma maneira muito mais produtiva e eficiente. Assim nasceram as principais estratégias de e-business e e-commerce.

O que o a indústria e o mercado da Web está dizendo agora, é que poderia nos ajudar a formular uma estratégia de Web3 bem pensada e realista. E aqui estão alguns objetivos importantes da Web3:

  • Inaugurar uma Internet mais empreendedora e descentralizada;
  • Salvar e guardar a nossa identidade e dados pessoais;
  • Encontrar o equilíbrio certo para a vida e o trabalho em um mundo digital-físico híbrido; e
  • Criar uma internet de valor baseada em blockchain.

(Vamos focar neste último tópico). Nas últimas décadas, vimos o surgimento da empresa virtual, pois a Internet permitiu que as organizações melhorassem sua eficiência, contando com parceiros de negócios para muitas das tarefas físicas e de serviços, antes realizadas internamente. Cada vez mais, a unidade de competição não é mais uma empresa, e sim, uma coleção de instituições trabalhando juntas para fazer as coisas. O ecossistema, é agora a unidade de competição.

Mas, enquanto a internet aumentava significativamente as transações, entre instituições em todo o mundo, os processos para gerenciar negócios entre empresas não acompanharam a transformação digital da economia, adicionando atrito e custos às operações.

Contratos, transações e seus registros estão entre as estruturas definidoras de nossos sistemas econômico, jurídico e político”, escreveram os professores de Harvard Marco Iansiti e Karim Lakhani em um artigo de 2017 da Harvard Business Review. “Eles protegem ativos e estabelecem limites organizacionais. Verificam identidades e registram eventos.  Governam as interações entre nações, organizações, comunidades e indivíduos. Eles orientam a ação gerencial e social. E, no entanto, essas ferramentas críticas e as burocracias formadas para gerenciá-las, não acompanharam a transformação digital da economia. Eles são como um congestionamento de trânsito, na hora do rush, segurando um carro de Fórmula 1. Em nosso mundo digital, a forma como regulamos e mantemos o controle administrativo sobre transações de negócios, precisa mudar.

O problema é que os participantes nas operações não têm acesso às informações necessárias para coordenar e gerenciar suas transações. Intermediários são então necessários para ajudar a lidar com a crescente escala e complexidade.

Vimos um problema semelhante nas primeiras décadas do setor de TI. A produtividade do trabalho nos Estados Unidos cresceu apenas 1,5% entre 1973 e 1995, um período de baixa produtividade que coincidiu com o rápido crescimento do uso de TI nos negócios. “Você pode ver a era do computador em todos os lugares, menos nas estatísticas de produtividade”, disse o economista ganhador do Prêmio Nobel do MIT, Robert Solow, em 1987, no que ficou conhecido como o paradoxo da produtividade de Solow.

O problema então era que as empresas usavam a TI para automatizar processos dentro de cada uma de suas funções separadas, mas a estrutura fundamental da organização permanecia a mesma.  Não havia uma base de dados comum para compartilhar informações entre essas várias funções que lhes permitisse reestruturar seus processos de negócios para tirar proveito dos novos recursos tecnológicos. A ascensão do Enterprise Resources Planning (ERP) na década de 1990 tornou possível compartilhar informações de negócios, redesenhar o fluxo de trabalho e automatizar ou eliminar processos que não agregavam valor à empresa e, assim, aumentar a produtividade em toda a organização. Naquela época houve um boom de empresas procurando certificações de qualidade e processos, como a ISO 9000.

Agora precisamos reestruturar de forma semelhante os processos envolvidos nas interações entre as instituições que trabalham juntas, no ecossistema em – uma espécie de ERP 2.0. Mas, como podemos fazer isso?

Com o blockchain, podemos imaginar um mundo no qual os contratos são incorporados em código digital e armazenados em bancos de dados transparentes e compartilhados, onde são protegidos contra exclusão, adulteração e revisão”, disseram Iansity e Lakhani. “Neste mundo, todo acordo, todo processo, toda tarefa e todo pagamento teria um registro e assinatura digital única, que poderiam ser identificados, validados, armazenados e compartilhados.  Intermediários como advogados, corretores e banqueiros podem não ser mais necessários. Indivíduos, organizações, máquinas e algoritmos transacionariam e interagiriam livremente uns com os outros com pouco atrito.”

A internet atual é stateless, ou seja, não há conhecimento armazenado ou referência a transações passadas, entre processos ou aplicativos que interagem na rede. Como resultado, as aplicações contam com servidores individuais das diversas instituições conectadas à internet, – por exemplo, bancos, plataformas de e-commerce, agências governamentais, – para manter o controle de informações e processar transações, cada uma fazendo do seu jeito, exigindo intermediários no processo, para ajudar a resolver problemas e divergências.

Esta é uma das grandes questões que a Web3 visa resolver ao criar uma stateful internet baseada em blockchain, ou seja, uma internet de valor que lembra eventos anteriores e interações do usuário e, assim, seria capaz de reduzir significativamente os vários atritos que ocorrem nas interações entre vários participantes.

Essa internet stateful baseada em blockchain é uma grande promessa para os ecossistemas de cadeias de suprimentos globais:

  • Aumento da velocidade, segurança e precisão dos acordos financeiros e comerciais;
  • Rastrear o ciclo de vida da cadeia de suprimentos de qualquer componente ou produto; 
  • Proteger com segurança todas as transações e dados que se movem através da cadeia de abastecimento; e
  • Fornecer um registro imutável e não revogável de todas as transações ao longo de todo o ciclo da cadeia de suprimentos, o que será de grande ajuda na resolução oportuna de erros ou disputas entre os parceiros da cadeia de suprimentos.

Uma internet de valor baseada em blockchain stateful permitiria a reestruturação, reengenharia e automação dos processos de negócios envolvidos nas interações em rápido crescimento entre instituições em todo o mundo. Embora, isso ainda leve alguns anos, esta é uma das promessas mais importantes da Web3.

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