A transformação da logística no setor de varejo

Contexto

Estou trabalhando em home office, desde o início da pandemia Covid-19. Neste meio tempo, muita coisa mudou; em especial, venho acompanhando o boom setor de logística, que deu um salto gigante para atender a demanda de compras e pedidos. Especialistas neste setor estão sendo constantemente assediados com ofertas de empregos e oportunidades.

Análise

Em 2018, o MIT lançou a Força-Tarefa Trabalho do Futuro para compreender o impacto das máquinas, cada vez mais inteligentes, no futuro do trabalho e como aproveitar melhor essas oportunidades. A força-tarefa do MIT divulgou suas descobertas e fez recomendações em um relatório de novembro de 2020, – Construindo melhores empregos em uma era de máquinas inteligentes.

Além do relatório, a iniciativa do MIT também publicou uma série de documentos de trabalho e resumos de pesquisa sobre tópicos relacionados.

Eu gostaria de comentar um desses resumos, O Futuro do Trabalho em Logística, de Arshia Mehta e Frank Levy, que explorou a transformação do setor de varejo desde o advento do comércio eletrônico na década de 1990. O briefing é um estudo de caso muito interessante da evolução do setor de varejo nas últimas décadas.

Vinte anos atrás, as redes de distribuição dos EUA foram construídas para entregar produtos a granel para lojas de varejo… Hoje, grandes partes das redes de distribuição são construídas para entregar itens individuais nas residências. A mudança foi impulsionada pela tecnologia, por meio do e-commerce, e recentemente reforçada pela pandemia Covid-19.”

O comércio eletrônico foi uma das primeiras aplicações da Internet. A Amazon e o eBay começaram a lidar com transações de comércio eletrônico em meados da década de 1990. As vendas online cresceram lentamente no início. Em 2001, as compras online representavam 1% de todas as vendas no varejo nos Estados Unidos, em parte porque a maioria dos usuários acessava a Internet por modens e telefones, e apenas 4% o faziam usando o acesso de banda larga. Naqueles primeiros dias, as compras online eram consideradas um luxo; somente para usuários de ponta da Internet.

Nas duas décadas seguintes, o acesso à Internet e o comércio eletrônico avançaram. Em 2010, os smartphones possibilitaram que mais da metade da população tivesse acesso à banda larga. As vendas de comércio eletrônico atingiram 6,4% de todas as vendas no varejo dos EUA, depois chegaram a 10,7% em 2015 e 15,8% na pré-pandemia de 2019. Em 2020, a pandemia fez com que as vendas online atingissem 21,3% de todas as vendas de varejo, – e um ano depois, atingiram incríveis 44% de crescimento anual.

Veja os números do e-commerce no Brasil.

A pesquisa examinou as mudanças nas redes de distribuição que eram necessárias para entregar o crescente volume de itens de pedidos online para residências individuais. Em particular, os autores analisaram as mudanças necessárias em dois componentes principais dos serviços de logística,

  • Armazenamento, e
  • Transporte rodoviário.

Ambos foram originalmente desenvolvidos para entregar pacotes a granel e grandes remessas para centros de distribuição e lojas de varejo, mas agora eles tinham que lidar com a entrega de um grande número de itens individuais para casas individuais. Além disso, a maior dependência da logística aumentou a demanda por serviços relacionados, incluindo programação mais eficiente, atualizações sobre o status da remessa e o manuseio da documentos da remessa.

A alta demanda por armazenagem e transporte rodoviário também estimulou pesquisas sobre inovações para redução de custos, incluindo variedades de automação de armazém e o desenvolvimento de caminhões autônomos que podem rodar em rodovias interestaduais. Na prática, no entanto, essas inovações ainda não chegaram ao mercado ou estão sendo adotadas lentamente.

Resumo

Armazenagem

A força de trabalho na indústria de armazenagem e logística cresceu de 438.000 em 2000 para 1,1 milhão em 2019. Esse crescimento da mão de obra se deve a uma série de fatores:

  • A rápida expansão do comércio eletrônico;
  • A mudança de pedido em massa para atendimento de item único;
  • Os limites da tecnologia robótica atual;
  • A rápida expansão do comércio eletrônico;  e
  • O ambiente pós-pandêmico incerto.

A produção por hora dos trabalhadores de centros logísticos não é maior em 2019 do que em 2000. A produção por hora aumentou cerca de 20% entre 2000 e 2014, mas depois diminuiu, deixando a produtividade ligeiramente mais baixa em 2019 do que em 2000.

As operações de warehouse envolvem uma combinação de tarefas físicas e de processamento de informações. As tarefas físicas incluem descarregar e armazenar os itens recebidos, separar os itens dos pedidos dos clientes, montar e embalar o pedido e carregar os itens embalados no caminhão que fará a entrega. As tarefas de processamento de informações incluem o controle de todos os itens recebidos, os locais onde foram armazenados, o recebimento e o cumprimento preciso dos pedidos individuais dos clientes e a manutenção de registros precisos de todas as atividades do centro logístico.

A maioria das primeiras melhorias de produtividade ocorreram devido a melhorias no processamento de informações, usando sistemas de gerenciamento de armazém, leitores, códigos de barras e etiquetas RFID para rastrear as chegadas de produtos, bem como os locais de armazenamento e remessas aos clientes.

O movimento automatizado de mercadorias evoluiu mais lentamente do que o movimento automatizado de informações. Muitas tarefas físicas fáceis para os humanos continuam difíceis para os computadores. Os armazéns têm demorado a adotar o necessário, – e caro, – equipamento de automação avançado porque requer a transformação do armazém de um prédio de armazenamento simples, em um centro de distribuição e atendimento de última geração, semelhante à que passaram as fábricas do setor automotivo há algumas décadas. Isso aumenta a possibilidade de que apenas as maiores empresas podem se dar ao luxo de desenvolver e implantar tecnologias avançadas de automação,

um processo que pode estar aumentando as tendências atuais em direção a uma maior concentração de mercado entre algumas empresas.

De 2014 a 2019, aumentos rápidos no e-commerce fizeram com que a contratação de depósitos crescesse mais de 10% ao ano, grande parte, em estruturas de depósitos mais antigos e não automatizados.

Muitos desses novos empregos, do boom logístico, não são para trabalhadores de baixa qualificação, que movem e embalam o material manualmente.

Em 2018, eles ganhavam em média $ 12,64 por hora (incluindo aquelas pessoas que trabalhavam em armazéns da Amazon a $ 15,00 por hora).

Conforme a automação do warehouse evolui, esses trabalhos entarão em risco.

Transporte

Entre 2000 e 2019, a produção da indústria de transporte rodoviário de carga geral aumentou cerca de 20%.

Um quarto deste aumento, veio da contratação de mais motoristas: 1,62 milhão em 2000 em comparação com 1,75 milhão em 2019. Três quartos do aumento representaram um uso mais eficiente de caminhões.”

Entre 2000 e 2019, a produção por hora no transporte rodoviário de cargas cresceu 14,8%. A maior parte desse aumento de produtividade vem do uso de ferramentas e métodos digitais para melhorar a programação de entregas de longa distância. Isso inclui:

  • Programação aprimorada para que um caminhão não faça a viagem de volta vazio;
  • Corresponder melhor à demanda e ao fornecimento de espaço para caminhões;
  • Mudança de rotas em situações de emergências;
  • Processamento automático de documentos; e outros.

Um caminhão autônomo

Comercialmente viável para viajar em rodovias interestaduais, ele ainda está a pelo menos uma década de distância. No entanto, várias tecnologias digitais têm melhorado a produtividade e a segurança dos caminhões, incluindo dispositivos GPS, aplicativos de programação de rotas, smartphones e aplicativos de smartphone, proteção contra colisão aprimorada, avisos de saída de faixa e assim por diante.

Se pensarmos no emprego logístico como um cabo de guerra entre os ganhos de empregos do e-commerce e as perdas de empregos da automação, até agora os ganhos de empregos estão na frente. …Em oito a dez anos, no entanto, a automação provavelmente será significativamente mais forte, reduzindo o número total de empregos e transferindo a mistura de empregos restantes, para técnicos, analistas e outras ocupações qualificadas.”

O desafio é projetar políticas de mercado de trabalho que lidem com as transições da automação, melhor do que as políticas atuais lidaram com o colapso que ocorre quando os empregos caem repentinamente no mercado de trabalho, devido a entrada de uma nova tecnologia de automação. Ao projetar a política, este caso de automação começa com duas vantagens:

1) Onde as paralisações costumam ser repentinas, a automação, descrita neste resumo, está ocorrendo de forma relativamente lenta; e

2) Onde as paralisações são concentradas em comunidades específicas, os trabalhos de logística e transporte estão dispersos por todo o país.”

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